segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Morre Sinval Garcia, 'artista visual, um viajante'



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Ariano, 45 anos. Dono de uma alegria suave. Sinval Garcia era um homem generoso, artista sensível, alma rara, segundo os amigos que colecionou após dez anos vivendo em Belém e em São Paulo, sua terra natal. O artista-fotógrafo se aventurou por aqui em 1996. Descobriu a fotografia, que virou ofício e paixão, envolveu-se em uma certa Fotoativa e guardou sua câmera na última sexta-feira, dia 14.

“Ele veio fazer o design de uma igreja, não lembro exatamente, e acabou descobrindo as imagens. Se revelou um laboratorista maravilhoso, inventou uma cartografia no laboratório muito própria, que acrescentou uma outra perspectiva à linguagem fotográfica”, revelou Maria Christina, fotógrafa e jornalista que foi amiga de longa data.

Para ela, Sinval era especial não apenas pelo seu talento, mas pela delicadeza e calma com as quais tratava as pessoas e se relacionava com o mundo. “Trabalhamos juntos ano passado na exposição ‘Cartografia Contemporânea’, onde ele ficou responsável por todo material de ampliação e montagem. Certa vez, ele ligou no meu aniversário e colocou para eu ouvir a Marilyn (Monroe) cantando ‘Happy Birthday To You’, outra vez fez sushi com crepe porque não gosto de algas”, contou.

Para o editor de fotografia do DIÁRIO, Octavio Cardoso, Sinval era, além de uma figura doce, um artista que via a fotografia como um movimento, uma ferramenta para atender ao trabalho pessoal. “Tinha um trabalho delicado, sutil, trabalhando muito no laboratório envelhecendo o papel, utilizando a foto como um instrumento artístico”, assinalou, lembrando que Sinval foi selecionado na 1ª edição do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia por um trabalho realizado através do coletivo “Um Certo Olhar”, que ele fundou em São Paulo.

Companheira de trabalho no coletivo, a fotógrafa Celina Kostaschuk acrescentou que o amigo deixou muitos órfãos. “Ele era um grande fotógrafo, mas como pessoa era excepcional. Em 2006, fundamos o grupo e ele era quem coordenava as ideias. Tínhamos uma exposição a montar para ser apresentada no próximo dia 23, como resultado de uma das nossas jornadas envolvendo a produção de fotógrafos amadores e profissionais”, frisou Celina, que atendeu a reportagem do VOCÊ a caminho do velório.

Vizinha de Sinval em São Paulo, que morava no bairro de Perdizes, a jornalista paraense Rose Silveira lembrou que ele era um artista extremamente dedicado ao trabalho, estudioso, com um talento para fazer obras coletivas, coisa que ele herdou da experiência com a Fotoativa e que levava adiante.

“Acompanhei uma vez a reunião de um grupo que ele orientava, numa oficina de fotografia, e percebi como as pessoas o respeitavam e gostavam dele, sempre muito educado e delicado. Ele tinha uma percepção artística muito refinada, elegante, e é só olhar para a fotografia dele para perceber como essa visão se expressa esteticamente”, opinou Rose.

Ela contou que sempre vai se lembrar de Sinval descendo a ladeira do outro lado da rua em que mora. “Não nos encontrávamos muito, mas eu gostava de brincar com ele dizendo que as moléculas do ar cometiam suicídio coletivo à sua passagem. Foi assim que o vi há poucos dias”, resumiu a jornalista.

O artista faleceu em decorrência das complicações de uma pneumonia. “Eu o visitei antes de viajar para Belém para acompanhar o Círio e ele parecia bem e ai adoeceu rápido. Estamos pensando num projeto mais para frente, reunindo muitas imagens que tenho com ele e que ele realizou, para homenagear o legado, a produção desse grande incentivador da arte e impulsionador dos nossos sonhos”, explicou, emocionada.
(Diário do Pará)

2 comentários:

Maria Antonia Brigato disse...

O Sinval foi quem me ensinou os primeiros passos na fotografia, pessoa sensível e gentil. Meu amigo do coração.

Maria Antonia Brigato disse...

O Sival Garcia foi quem me ensinou os primeiro passo na fotografia, pessoa sensível e gentil, meu amigo do coração.

Mabrigato@ig.com.br